Construindo o Futuro: A Importância da Representatividade na Ciência
- Natália Santos
- 13 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
A imagem que geralmente nos vem à mente ao pensar em um cientista é, sem dúvida, bastante comum.
Albert Einstein, por exemplo, foi um dos primeiros cientistas "excêntricos" a se tornar uma figura icônica na cultura pop. Refiro-me a "excêntrico" porque, assim como ele, muitos cientistas célebres tinham hábitos peculiares: dormir mais de 10 horas por dia, não usar meias e ter uma paixão por espaguete. No entanto, sua genialidade é inquestionável.
Einstein simboliza o imaginário popular sobre cientistas: homens mais velhos, com cabelos grisalhos e desgrenhados, muitas vezes considerados um pouco malucos. Não posso julgar – afinal, cresci com essa representação na televisão!
Ao refletir sobre isso, percebo que muitos dos meus desenhos animados favoritos envolviam personagens científicos que me fascinavam. "O Laboratório de Dexter", "Jimmy Neutron", "As Meninas Super-Poderosas" e "Pink e o Cérebro" apresentavam cientistas ou aspirantes a cientistas que influenciaram minha mente curiosa. Contudo, confesso que foi minha mãe quem realmente me fez considerar a possibilidade de me tornar uma cientista.
Todas as minhas primeiras influências eram desenhos com protagonistas predominantemente masculinos e a cultura pop, assim como a história das grandes descobertas científicas, quase sempre atribuíam a homens. Eu me encantava por esses processos e descobertas, mas nunca me via como parte desse mundo.
Até que, um dia, ao folhear uma revista "Scientific American" da minha mãe, me deparei com um artigo sobre nanobiotecnologia e a construção de nanorrobôs. Fiquei tão empolgada com o que li, especialmente pela possibilidade de contribuir para a "cura do câncer" (na época, meu avô lutava contra um câncer de próstata), que corri até minha mãe para perguntar como poderia trabalhar nessa área. Ela me explicou que eu precisaria cursar uma graduação relacionada e sugeriu alguns cursos. Naquele momento, decidi que era isso que eu queria fazer.
Neste post, quero abordar a falta de representatividade que eu enfrentava na época, um desafio que persiste em certa medida até hoje.
Se não fosse pela minha mãe, uma pesquisadora em casa, minha história poderia ter sido diferente.
Mainha é bióloga e, durante sua graduação, dedicou-se à pesquisa de fungos. Após se formar, começou a lecionar no Ensino Fundamental II e Médio, mas, devido a circunstâncias pessoais, deixou a vida acadêmica. Tanto ela quanto Painho sempre nos incentivaram, a mim e à minha irmã, a estudar bastante, mas também nos deram liberdade para escolher nossas profissões – inclusive desencorajando-nos a seguir a carreira de professores hahaha.
Aquele dia em que perguntei à minha mãe como poderia me tornar uma "pessoa que trabalha com nanorrobôs" foi o dia em que percebi que ela era uma cientista e que eu também poderia ser.
Pode parecer bobo, mas aquele momento foi crucial para mim.
Com o passar dos anos, fui estudando e aprendendo sobre grandes cientistas: físicos, químicos, biólogos, naturalistas... Nomes como Newton, Lavoisier, Pauling, Pauli, Darwin, Mendel e Tesla – todos homens.
Lembro que as únicas cientistas que conheci na escola foram Marie Curie e Rosalind Franklin. A primeira é amplamente reconhecida, enquanto a segunda foi mencionada por minha maravilhosa professora de biologia (que eu chamava de 'mainha') em uma aula sobre a descoberta da estrutura do DNA e o famoso roubo de reconhecimento que envolveu a elucidação da molécula.
Fora essas duas – que, convenhamos, tiveram finais trágicos – não conheci mais nenhuma.
Essa realidade começou a mudar quando entrei na universidade. Embora os grandes nomes das teorias não tenham mudado, a maioria do corpo docente era composta por mulheres. Mulheres inteligentes, competentes e influentes. Foi uma grata surpresa para mim!
No entanto, mesmo com essa presença significativa, em 2023, a Organização das Nações Unidas estimou que apenas 33% dos pesquisadores no mundo são mulheres. Embora essa disparidade seja menor nas Ciências Biológicas, é crítica nas áreas de Tecnologia da Informação e Exatas.
Um questionamento pertinente que surge é: "Existem menos mulheres nessas áreas porque elas preferem as Biológicas?"
Em minha opinião, essa disparidade de representatividade pode estar relacionada a preferências, mas acredito que falta um maior incentivo para que meninas jovens entendam que podem trabalhar em qualquer área que desejem.
A graduação que minha mãe sugeriu foi "Engenharia de Automação e Controle", e eu até comecei a cursá-la, mas apenas por três dias – cômico, mas trágico. Por quê? Primeiro, porque o semestre já estava em andamento há um mês quando fui chamada para me matricular.
Segundo, porque a turma era composta por 98% de homens. Havia apenas mais uma garota na sala. Seria hipócrita da minha parte dizer que isso não influenciou minha decisão de não continuar.
Talvez essa afirmação seja incompreensível para um homem, mas, para uma mulher, é totalmente justificável. Em três dias, já me senti menosprezada por ser mulher em um ambiente predominantemente masculino; imaginem como seria em quatro anos!
Após trancar o curso, recebi a notícia de que fui aceita no curso de Biotecnologia na UFPB, e fiquei muito feliz. Agora poderia seguir meu sonho em uma nova graduação, e confesso que me senti muito mais capaz, pois envolvia muito mais biologia do que as áreas exatas da engenharia.
Foi uma questão de preferência? Talvez. Mas não apenas isso.
Esses são alguns dos motivos pelos quais criei a BioNat. Hoje, vivemos em uma sociedade cada vez mais conectada, e isso tende a aumentar nos próximos anos. Acredito que é justo que nós, cientistas, abramos caminhos para as futuras gerações, compartilhando exemplos reais de como chegamos aqui e o que fazemos.
Meu nome é Natália Santos do Nascimento. Sou pesquisadora na área de Nanobiotecnologia Farmacêutica, mestre pela FCF-USP e biotecnologista pela UFPB. Aqui no BioNat, planejo trazer um compilado de informações sobre esses temas relacionados ao meu trabalho, compartilhar um pouco da minha rotina como aluna de pós-graduação, oportunidades e muito mais!
Espero que vocês se juntem a mim nesta jornada!
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